Bom dia a todos!!
Estava procurando uns textos mais atuais para compartilhar com vocês que são pais e educadores e finalmente achei um que realmente valesse a pena! O texto é de Maria Tereza Maldonado e em seu site podemos achar muuuuita coisa interessante..Eu amei a leitura, e vcs?? Aguardo reações!!! Bjs e boa semana!
“MAS TODO MUNDO FAZ!”, “MAS TODO MUNDO TEM!”
Esses são
argumentos poderosos que os filhos utilizam, há algumas gerações, para
testar os limites que os pais colocam. Muitos se sentem pressionados e
cedem, temendo que os filhos sejam excluídos do grupo de amigos.
Lembram-se de se sentirem humilhados e inferiorizados quando eram
desprestigiados por seus próprios pares quando não tinham a mochila ou a
calça da marca valorizada na época, com raiva dos pais que lhes
negavam o acesso aos bens de consumo que representavam o passaporte de
aceitação no grupo. E, agora, sofrem ao verem os filhos com medo de
serem rejeitados e excluídos.
Dependendo
da época, mudam os conteúdos, mas o processo é idêntico: roupas, tênis,
mochilas e estojos de marca continuam sendo prestigiados na nossa
sociedade de consumo, mas outros bens passaram a ser incluídos na
lista: smartphones, iPads, iPods, entre outros. Após uma palestra em
uma escola de classe média alta fui cercada por um grupo de mães
preocupadas com suas filhas de dez anos que se sentiam excluídas do
grupo por não estarem tão conectadas quanto as outras que se
comunicavam por meio de aparelhos de última geração para combinar
programas, disseminar fofocas ou trocar ideias: o computador e os
telefones convencionais já eram considerados obsoletos como meios de
comunicação.
A pressão para fazer
parte de uma rede de relacionamentos também é grande, burlando a lei da
idade mínima: “Todos os meus amigos fazem parte, só eu vou ficar de
fora? Vou ser discriminado!” argumenta o menino de nove anos, ansioso
por divulgar as fotos da viagem de férias, sem a menor noção dos riscos
envolvidos pela superexposição de informações sobre a vida pessoal.
Em seu livro Vida
para consumo, o sociólogo Zygmunt Bauman, profundo estudioso da
sociedade contemporânea, diz que vivemos em uma sociedade que estimula a
nudez física e psíquica. Por conta disso, as pessoas passam a expor
detalhes de sua vida privada em público.
“Se eu posso dar o que
eles pedem, por que não?”, questionavam algumas mães temerosas de
frustrar desejos imperativos por objetos considerados indispensáveis.
“Mãe, quando você era criança essas coisas nem existiam, mas agora não
dá para viver sem isso!”. E o que fazer com a preocupação de ver os
filhos excluídos do convívio por não trocarem mensagens o dia todo
pelos smartphones? O bullying manifestado pela exclusão dos que não
possuem os objetos considerados essenciais é uma realidade em muitas
escolas, revelando as práticas discriminatórias presentes na sociedade
que despreza quem “tem menos”, mesmo que “seja mais” (inteligente,
interessante, solidário, entre outras qualidades pessoais).
“Você não é todo
mundo!”;“ Eu não sou todos os pais que deixam os filhos terem ou
fazerem o que você está querendo!” – estes são os argumentos
tradicionais que os pais apresentam para reforçar o “não”. Mas o
desafio precisa prosseguir para incluir uma reflexão crítica sobre o
consumismo e o fortalecimento de recursos para que a criança consiga se
incluir nos grupos mesmo sem os objetos de desejo cultuados. A simples
posse desses objetos não garante a inclusão no grupo, até porque
rapidamente estes são substituídos por novos modelos, tornando o
anterior (e o seu dono) descartável.
Convidei esse grupo de
mães preocupadas a imaginar uma situação infelizmente cada vez mais
comum já no início da adolescência: “Pai, se não tiver cerveja na minha
festa de aniversário, ninguém vai aparecer!” “Todos os meus amigos
dirigem o carro dos pais com quinze anos, por que vocês não deixam que
eu aprenda logo de uma vez?” E, então, nessas situações desafiantes, os
pais vão ceder aos desejos dos filhos para que eles sejam supostamente
aceitos pelo grupo mesmo que isso envolva riscos e ações impróprias
para a idade? É bom saber que, no cérebro adolescente, a percepção de
risco e a capacidade de autoproteção ainda estão em construção. É
igualmente importante lembrar que os pais são amorosa e legalmente
responsáveis pelos seus filhos.
Mais importante do que
ceder aos desejos do filho é convidá-lo a desenvolver a inteligência
dos relacionamentos. Como pode convencer os amigos de que vale a pena
irem à sua festa de aniversário mesmo sem bebidas alcoólicas? Como
continuar sendo aceito pelos amigos quando recusa as drogas que passam a
circular livremente entre eles? Como desenvolver recursos pessoais
para construir uma sólida auto-estima e se apresentar como uma pessoa
de valor mesmo sem usar roupas e acessórios de marcas prestigiadas?
Aprender a transitar entre a necessidade de pertencer a um grupo e o
trabalho de construir uma identidade pessoal fundamentada na ética do
ser é uma das grandes conquistas do desenvolvimento de todos nós.
Texto extraído do site: http://www.mtmaldonado.com.br/
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